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    O ar condicionado na pandemia

    Você sabe qual a relação da Covid-19 e o ar condicionado? Será que ele é mesmo o grande vilão dos ambientes internos?

    Esse foi o assunto do bate-papo promovido pelo departamento nacional de qualidade do ar interiores, o QUALINDOOR da ABRAVA. (Associação Brasileira de refrigeração, ar-condicionado, ventilação e aquecimento.), organizado por Marcelo Munhoz, presidente do QUALINDOOR. 

    O Webinar contou com a participação de dois convidados muito importantes, o Engenheiro Antônio Luís de Campos Mariani – Engenheiro e professor no departamento de engenharia mecânica da escola Politécnica da universidade de SP desde 1989.
    – Possui graduação, mestrado e doutorado em engenharia mecânica na escola Politécnica da USP. Coordena o laboratório de estudos da qualidade do ar interior da Poli Usp. É presidente da comissão de projetos com responsabilidade social da Poli Usp e membro da Sociedade Americana de Engenheiro de aquecimento e refrigeração de ar condicionado. 

    Também participou o Dr. Paulo Saldiva, médico formado pela Faculdade de Medicina da USP em 1977. Professor titular do departamento de Patologia da faculdade de medicina da USP em 1996. É membro titular da Academia de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências.
    É um dos 239 cientistas do mundo que assinaram a carta da OMS reconhecendo a transmissão do novo CoronavÍrus por micropartículas.

    Qualidade do ar em tempos de Pandemia

    O objetivo do Webinar foi trazer algumas questões importantes e que estão enfatizadas durante a pandemia: Será que as pessoas sabem para que serve o sistema de ventilação e ar condicionado? Será que esses aparelhos são operados e utilizados de maneira correta? As informações divulgadas nas mídias estão realmente completas e corretas? São algumas questões que devemos levar em consideração quando falamos em qualidade do ar interno, destaca Eng. Mariani.

    Momentos históricos antes da pandemia já nos mostravam situações onde ocorreram falta de informação, responsabilidade técnica e responsabilidade de gestão em locais onde a ventilação de ar condicionado deveria cumprir funções fundamentais aos ocupantes, como qualidade de vida e saúde no ambiente. 

    Quando analisamos esse tipo de situação, verificamos que proprietários, empreendedores e as pessoas que contratam gestores das instalações precisam ser reeducados, informados e regulados pelas legislações de normas técnicas. Além disso, é preciso ter penalizações pelo não cumprimento de legislações e normas técnicas, afinal, não adianta fazer leis e normas se elas não forem divulgadas, aplicadas e difundidas corretamente.

    Entretanto, vale comentar que também existem boas informações a respeito da importância da ventilação, mas que nem sempre são levadas a sério, destaca Mariani.

    Existem recomendações que falam sobre a importância de usar e operar corretamente o sistema de ventilação e ar-condicionado, tais como:

    •NR 17 – Ergonomia – Ministério do trabalho (1978): A norma prevê que “as condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado (17.5.1)”.

    Isso significa que são recomendadas medidas de conforto, especialmente para atividades “que exijam solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre outros”.

    Os níveis de ruídos precisam ser de acordo com o estabelecido na NBR 10152; o aceitável para atividades não relacionadas a esta outra norma é de até 65 dB (A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor não superior a 60 dB.

    A temperatura deve estar entre 20ºC e 23ºC com umidade relativa do ar não inferior a 40%.
    A iluminação deve ser adequada, uniformemente distribuída e difusa.

    •Portaria 3523 – Ministério da saúde (1998): Essa norma agrega os procedimentos que verificam o estado de limpeza, conservação e manutenção da integridade dos sistemas de climatização.

     •RE-09 – Regulamento técnico na ANVISA (2003): Os Padrões Referenciais de Qualidade do Ar Interior foram, inicialmente, publicados na Resolução 176/2000 da ANVISA, posteriormente revisada e atualizada pela RE-09/2003. Essa norma determina a avaliação semestral da qualidade do ar dos estabelecimentos, indicando o número mínimo de amostras a serem tomadas, conforme a área construída climatizada.

    •NBR 16401 – ABNT (2008): Essa norma responde aos padrões da ABNT, onde define e organiza alguns parâmetros acerca dos projetos para sistemas de ar-condicionado centrais e unitários. A Norma entrou em vigor em 2008, está passando por revisões que entrará para consulta pública com nova metodologia de cálculo para definir as taxas de renovação e filtragem no ambiente. A norma, de maneira geral, é dividida em 3 partes: Projetos das instalações; Parâmetros de Conforto Térmico e Qualidade do ar interior.

    Para saber mais sobre esse assunto, confira o material completo que postamos no nosso Blog, clicando aqui.

    A importância da informação sobre qualidade do ar

    “A minha reflexão me leva a um ponto em que é importante trabalharmos com informação a favor da educação. Precisamos informar e educar para que as pessoas melhorem o seu comportamento, melhorem a forma de utilizar esses equipamentos e com isso a gente tenha melhores condições dos ambientes internos, em ambientes com ventilação e ar-condicionado.

    Na revisão da NBR 16.401 eu fiz essa proposta que está inserida no projeto, que a gente coloque cada vez mais nas normas e legislações a obrigatoriedade na divulgação de porquê existe a ventilação, porquê existe o ar condicionado e como é que funciona. Quais os parâmetros que ele deve estar colocando…. Isso já existe em outras campanhas e elementos que já fazem esse tipo de informação, como as informações trazidas nos elevadores e nas campanhas nos maços de cigarros. Trata-se de um conjunto de informações que devem orientar e educar as pessoas a usar corretamente aquele equipamento. ” Diz Eng. Mariani.

    A proposta é que no sistema de ventilação e de ar-condicionado existam informações de vários níveis para as várias pessoas – técnicas e não técnicas – que vão interagir com esse sistema.

    A ideia é que haja uma certa padronização dessas informações, que seja estabelecida pela norma técnica e exigida pela legislação. Esse tipo de informação pode e deve colaborar para que as pessoas passem a ter uma melhor consideração para tudo isso.

    “Eu acredito que a mudança efetiva ocorre com a transformação das pessoas. Eu não acredito que basta a gente nomear ou eleger um gestor melhor para nossa sociedade se a gente não transformar as pessoas que estão presentes nele, isso vai dar certo? Não, não vai. Se não transformarmos as pessoas e não dermos oportunidade para elas se educarem melhor, mudarem seu senso crítico, terem melhores condições de vida em todos os seus aspectos… não adianta só a gente ter uma perspectiva de gestão administrativa dos poderes instituídos, nós temos que fazer processos que possam mudar as pessoas – Eng. Mariani.

    E como fica a saúde dos ocupantes dentro do ambiente?

    As pandemias transmitidas por contato interpessoal, como a Covid-19, são frutos basicamente da contaminação ocorrida em ambiente interno. É claro que também existe a contaminação em ambientes externos, mas as chances são bem menores, diz o Dr. Paulo Saldiva.

    Desde a gripe espanhola e a varíola, a contaminação ocorria dentro de casa, assim como acontece com as gripes nas escolas. Quando se fecha uma janela nos dias mais frios e uma criança pega gripe, por exemplo, é o aerossol que é liberado pelo espirro e a sua deposição em superfícies onde se põe a mão e depois se contamina.

    Existem duas vias para se pensar na qualidade do ar interior: a poluição que chega da rua, como por exemplo a queima de combustível fóssil, poluição do ar, além de componentes como aldeído, radônio, monóxido de carbono, assim como componentes de queima que se fazem dentro de casa, por exemplo. Esse conjunto de poluição indoor e outdoor, responde no mundo a cerca de 7 milhões de óbitos, mais ou menos dividida metade para cada um desses componentes, diz o Dr. Saldiva.

    “Isso não é levado em conta a poluição por agentes biológicos, como agentes infecciosos, pois só de gripe nós temos uma média anual de cerca de 400 a 500 mil mortes prematuras, e mais as doenças virais das crianças , que responde a mais ou menos 200 mil mortes a mais, e que acontecem também no ambiente interno. Trata-se de um problema de grande magnitude e que tem soluções distintas dependendo do nível socioeconômico do país que se vive e do clima no país em que se vive. Trata-se de um grande desafio para nós. ” Diz Dr. Saldiva.

    O número estimado de mortes dentro de casa é estimado pela qualidade do ar interior, que corresponde a mais ou menos 3.8 milhões de pessoas ao ano. Sendo que as mulheres ficam mais tempo dentro de casa, com crianças em sua proximidade, estando na maior parte das causas dos 27% das mortes, que corresponde ao número aproximado de 400 mil crianças por ano. Uma das causas se dá a bronquite crônica, assim como doenças cardiovasculares e no cérebro.

    Nós temos dentro do nosso corpo bactérias, os prédios também têm…. Eles possuem um perfil microbiológico próprio, que mudam com a idade, com a umidade e com as características do prédio, assim como as condições climáticas. O mais difícil de estudarmos são os vírus, pois precisamos saber o tipo de metodologia e levar em consideração vários fatores, como condições do ambiente e fatores externos, ocupação e atividade, quantidade de pessoas presentes no ambiente… tudo isso irá determinar a qualidade do ar no ambiente. 

    Para termos uma ideia, o SARS-CoV 1, que ocorreu em 2002, teve evidências suficientes da transmissão por sistemas de ar condicionado que não foram bem planejados, prédios antigos, hospitais feitos durante a colonização britânica, e que não tinham uma ventilação adequada da UTI.  Já no caso do novo Coronavírus, existem cinco estudos feitos na literatura, desses estudos, apenas dois foram publicados. Isso porquê os outros ainda não atingiram o nível para ser publicado. O que concluímos com isso é que não há evidências de transmissão de ar condicionado, ou seja, a transmissão pode ocorrer com ou sem ar condicionado no ambiente. Pelo contrário, existem evidências que uma ventilação adequada protege o ambiente e os ocupantes deles, enfatiza o Dr. Saldiva.

    Podemos concluir que precisamos fazer sistemas de ventilação mais eficientes, afinal, renovar o ar do ambiente é importante e sabemos disso desde os tempos das infecções hospitalares.

    Temos ainda problemas de igualdade com o desenvolvimento de sistemas de renovação de ar em lugares que não podem pagar por isso, existem perdas econômicas importantes e muito grandes por gripes e fenômenos dentro de corporações e que precisam de ventilação adequada com uma boa manutenção. Mas, nós vamos ter pelo menos nos próximos 5 anos Beta Coronavírus circulando no ar, e para o mundo voltar a funcionar, nós precisamos também que as pessoas participem e melhorem seus sistemas de ventilação e se possível, ter sistemas de esterilização no ambiente.

    “Isso vai existir uma necessidade e uma criatividade enorme do desenvolvimento de novas técnicas e uma valorização da qualidade do ar interior, que vai demandar pesquisa, investimento – não só por questões de saúde, mas por questões econômicas. E com esse desafio imposto agora, nós temos que ir além do fungo e do ácaro, e começar a pensar em agentes menores que são difíceis de serem removidos por filtros. Eu acredito que esse vai ser o caminho.

    Do ponto de vista e do conhecimento na área da saúde, esse vírus vai para o ar, e você pega a partir do ar interior. O único jeito de impedir a contaminação da sua casa, do seu lugar de trabalho e do seu transporte, é ter uma renovação do ar e promover a diluição desse agente para o ambiente externo, onde o risco cai dramaticamente. Esse é o desafio que está posto na mesa. O remédio não está na gente, não está na saúde, o remédio está com quem produz equipamentos, produz soluções. ” Destaca Dr. Saldiva.

    E como ficará a vida depois da vacina? A vida voltará ao normal e esqueceremos da preocupação sobre a renovação do ar?

    Longe disso! Hoje, infelizmente, já temos casos de pessoas que tomaram a vacina, médicos que foram os primeiros vacinados e que morreram após a vacinação da Covid-19. Segunda coisa que a gente ainda não sabe é quanto tempo vai restar a nossa imunidade. Diferentemente do Sars 1, que era mais agressiva, o novo Coronavírus não é tão agressivo mas tem um tempo de incubação muito longo. Então ele se espalhou pelo mundo com uma eficiência muito maior e com mais variantes. 

    “Eu não acho que quando tomarmos a vacina o problema vai acabar, isso veio para ficar. Isso ocorre devido as condições do mundo, da aglomeração de cidades, da urbanização e da mobilidade” – Dr. Saldiva.

    “A solução de renovação do ar é importante hoje, amanhã, daqui 2 anos, 3 anos e por aí vai…” Destaca Marcelo Munhoz.

    É importante ficar claro que a renovação do ar não é preocupação só agora na pandemia, a necessidade de renovação do ar é algo que precisa existir sempre. Mas agora com a pandemia nós temos que melhorar para reduzir o nível de transporte dos microrganismos, e as várias soluções que estão presentes devem ser consideradas e precisa haver uma instalação feita com bastante cuidado em função inclusive do nível de risco que existe no ambiente que está sendo renovado. – Eng. Mariane.

    Fica claro que precisamos de um belo projeto de HVAC, é preciso realmente ter um projetista que tenha total conhecimento da situação e que possa especificar de forma objetiva e profissional o equipamento correto, analisando todo o sistema de ar-condicionado e ambiente, finaliza Marcelo Munhoz.

    Como é a qualidade do ar do seu ambiente? Você ficou com alguma dúvida sobre esse assunto? Entre em contato com um de nossos especialistas e vamos conversar!

    Para assistir o Webinar completo, basta clicar aqui.

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